13.08.11 - Varejo tem semestre de alta forte, com mercado de trabalho aquecido
O bom desempenho do comércio varejista no primeiro semestre mostrou que a demanda interna continua forte neste ano, impulsionado especialmente pelo mercado de trabalho aquecido e pela elevada confiança do consumidor.
As vendas no varejo ampliado, que incluem veículos e autopeças e material de construção, cresceram 9,2% em relação ao mesmo período de 2010, a despeito do ciclo de alta de juros e das medidas de restrição ao crédito. Em junho, essa vendas subiram 0,5% sobre maio, feito o ajuste sazonal, um ritmo inferior ao de março a maio nessa base de comparação, o que indica uma desaceleração no ritmo de crescimento nos últimos meses.
As condições de empréstimos e financiamentos pioraram nos últimos meses, com aumento dos juros e o fim do alongamento dos prazos, mas não a ponto de prejudicar as vendas dos bens mais dependentes do crédito. Luiz Goes, sócio sênior da consultoria especializada em varejo GS&MD - Gouvêa de Souza, nota que os setores ligados ao crédito tiveram as taxas mais fortes de expansão. No primeiro semestre, as vendas de móveis e eletrodomésticos aumentaram 17,7%, e as de veículos e motos, partes e peças, 12,1%. "É possível que, sem as medidas de restrição ao crédito, o crescimento das vendas desses bens fosse maior, mas mesmo assim houve uma alta expressiva", afirma Goes.
O economista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria, diz que o desempenho do varejo no semestre reflete principalmente o bom momento de importantes condicionantes da demanda, em especial o emprego e a renda e a elevada confiança do consumidor. Na série com ajuste sazonal, a taxa de desemprego está na casa de 6%, em níveis próximos das mínimas históricas. Já o índice de confiança do consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV) avançou 2,3% em junho e 5,4% em julho, atingindo o nível mais alto da série iniciada em 2005.
"A queda dos preços e a estabilidade do emprego têm sido um contraponto às medidas macroprudenciais do governo", complementa Reinaldo Pereira, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE. Ele acrescenta que, além do câmbio, incentivos governamentais têm explicado reduções de preços em produtos de informática, o que limita os efeitos das restrições ao crédito.
Andrade chama a atenção para descompasso entre o comportamento das vendas no varejo e da produção industrial. No primeiro semestre, a indústria cresceu apenas 1,7% sobre igual período de 2010, muito abaixo dos mais de 9% de aumento do comércio ampliado. A forte concorrência do produto importado, favorecida pelo real forte, dificulta a vida da indústria, que ainda tem dificuldades de exportar, tanto pelo câmbio valorizado como pela fraca demanda em países desenvolvidos.
Fonte: Valor Econômico