26.04.14 -
Análise da FCDL-RS leva em conta diversos fatores que estão impulsionando a economia do Rio Grande do Sul
O início do ano de 2014 supera as expectativas mais otimistas para o Rio Grande do Sul. O comércio varejista gaúcho, segundo a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul - FCDL-RS, cresceu 15,29% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2013.
Um dos fatores que provocou esse resultado, e que já havia sido apontado em janeiro, foi a inesperada reação dos consumidores diante da falta de transportes coletivos em Porto Alegre nos primeiros dias de fevereiro por conta da greve dos motoristas de ônibus. O fenômeno acabou vitaminando o comércio dos bairros.
- Além disso, a sustentação do elevado nível de empregabilidade no RS, o calor excessivo no início do mês e a perspectiva de uma boa safra agrícola (com faturamento antecipado por parte dos agricultores) foram fundamentais para garantir a expansão das vendas - explicou o presidente da FCDL-RS, Vitor Augusto Koch.
Em termos anualizados, as vendas do varejos gaúcho atingiram o crescimento de 7,53% e tendem a continuar sua rota de expansão nos próximos meses.
Nacionalmente as vendas totais do comércio gaúcho em fevereiro foram as maiores do Brasil. A média nacional foi de 8,47% em relação ao mesmo mês de 2013 e os estados que mais se aproximaram da performance gaúcha foram Santa Catarina (14,95%) e Alagoas (15,07%).
Análise por setores:
Fonte: Departamento de Pesquisa da FCDL-RS
Combustíveis: Vendas se Aceleram
Fevereiro ainda é o principal mês de concentração de férias dos gaúchos (gradativamente está migrando para janeiro) e fatores paralelos como a alta do dólar - chegou a perto de R$ 2,40 no período em questão - incentivou ainda mais o turismo nas proximidades em detrimento das viagens internacionais.
Junto com isso, o aumento da frota estadual de veículos e o calor excessivo dos primeiros dias do mês, em conjunto com a falta de transporte público em Porto Alegre (em função da greve dos rodoviários) alavancou as vendas de combustíveis no Estado
A alta de fevereiro foi de 17,30% em relação ao mesmo período de 2013, bem superior à média nacional que ficou em 13,47%.
Nesse segmento do comércio o RS só foi nacionalmente superado pela Bahia (alta de 26,36%), Ceará (20,90%), Paraná (17,68%) e Distrito Federal (17,95%).
Super e Hipermercados: Ritmo de Recuperação
Após um 2013 especialmente difícil para os super e hipermercados (especialmente por conta da alta do preço dos gêneros alimentícios), o setor fechou em fevereiro último a quarta alta consecutiva de vendas em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O crescimento foi 6,35% dando consistência ao processo de recuperação.
Nacionalmente, a alta chegou a 5,09%, liderada pela Bahia (crescimento de 8,84%), Pernambuco (8,2%) e São Paulo (7,05%) ficando o Rio Grande do Sul na quarta posição.
A dúvida fica para a continuidade da recuperação desse gênero lojista em março. Além do menor número de dias úteis do mês (o carnaval caiu em março), ocorreu no período nova aceleração de preço dos gêneros alimentícios (3,24% de acordo com o IPCA-Porto Alegre).
Tecidos, Vestuário e Calçados: Acomodação das Vendas
Depois de sete meses seguido de crescimento predominantemente acelerado, os lojistas gaúchos do ramo de tecidos, calçados e vestuário experimentaram e fevereiro último que das vendas de 0,95% em relação ao mesmo mês de 2013.
Esse comportamento, entretanto, não deve ser encarado como qualitativamente negativo, uma vez que a base comparativa foi bem elevada (crescimento de 24,87%), conforme se verifica na ilustração a seguir. Diante desse contexto, a pequena queda verificada em fevereiro de 2014 pode ser justificada pela acomodação do indicador, o que é natural e esperado em casos similares. Sendo assim, será surpreendente se março registrar algum tipo de crescimento destacado de vendas do setor, o que deverá voltar a ocorrer somente a partir de abril.
Em termos nacionais a expansão foi de 7,45%, liderada por Ceará (alta de 25,72%), Pernambuco (20,69%) e Goiás (20,52%).
Móveis e Eletrodomésticos: 12 Meses de Crescimento
Após bater recorde de crescimento em janeiro, as vendas gaúchas de móveis e eletrodomésticos continuou em elevada expansão, registrando alta de 12,7% em fevereiro de 2014 diante de igual mês do ano passado.
Dessa forma, o gênero lojista completou seu 12º mês de incessante crescimento, seguramente alavancado pelas vendas de ar condicionados, especialmente nos primeiros dias do mês - dado o forte calor da época. Certamente, caso não houvesse falta do produto nas lojas, as vendas seria bem maiores.
As vendas de móveis também não decepcionaram, registrando elevação de 7,06%. No comparativo nacional (crescimento de 10,45%) a liderança foi dívida entre Ceará (31,13%) e Santa Catarina (27,37%).
Importante destacar que o resultado catarinense carrega implicitamente o consumo dos municípios gaúchos próximos a fronteira estadual, por conta da diferença tributária favorável no Estado vizinho. A correção dessa distorção aumentaria ainda mais as vendas gaúchas... e a arrecadação de impostos sobre os produtos em foco.
Produtos Farmacêuticos: Fôlego Retomado
Conforme era esperado, as vendas varejistas gaúchas de produtos farmacêuticos em fevereiro retomaram seu padrão de crescimento dos últimos tempos, acima de 6%. A alta no mês em questão foi de 9,66% diante do mesmo período do ano passado, depois de um janeiro mais modesto em função da elevada base comparativa.
A tendência é que as vendas continuem em expansão elevada, mas esperando-se novas acomodações (menor crescimento das vendas) em abril e julho próximos.
No comparativo nacional (alta de 15,29%) a liderança ficou para Bahia (36,00%), Pernambuco (33,33%) e Goiás (20,27%). No mês em foco, o RS só não foi superado por Santa Catarina e Ceará. Isso, antes de ser um problema, indica a existência de fôlego para o crescimento continuado em patamares elevados.
Papelaria, Livros, Jornais e Revistas: Reconversão à Vista
Mantendo a trajetória predominante desde meados de 2011, as vendas do ramo de papelarias, livros, jornais e revistas do Rio Grande do Sul registraram nova queda em fevereiro. A retração foi de 6,13% diante do mesmo mês de 2013, fazendo com que o indicador anualizado retome os percentuais negativos (-0,32%).
Conforme a FCDL-RS já apontou em outras oportunidades, o segmento de livrarias e leitura rápida (jornais, revistas) sofre crescente concorrência com a internet, seja em função da democratização da informação gratuita via web, ou mesmo pelas lojas virtuais especializadas em publicações, hoje em dia mais populares do que os tradicionais estabelecimentos de venda. No ramo físico prosperam apenas os estabelecimentos com larga escala de vendas (grandes papelarias e livrarias) e os especializados em artigos de luxo ou integrados com outros tipos de negócios (cafés, por exemplo). Nacionalmente as vendas caíram 4,27%.
Produtos de Informática e Escritório: Queda Continuada
Vinculado a um dos setores mais dinâmicos da economia contemporânea, o segmento das lojas de informática e material de escritório completou em fevereiro seu quinto mês consecutivo de queda em relação ao mesmo mês do ano anterior.
A retração do último dado foi de 22,93% e as agregações semestrais (linha verde) e trimestrais (linha vermelha) também já estão em queda livre.
Nacionalmente as vendas cresceram 7,08% em fevereiro e acumulam expansão em 12 meses de 6,9%. O resultado negativo gaúcho só teve como companhia o Espírito Santo (-17,07%) e Minas Gerais (-3,33%).
Artigos de Uso Pessoal e Doméstico: Crescimento Dobrado
Em fevereiro o segmento varejista de artigos de uso pessoal e doméstico atingiu a invejável marca de 35 meses de crescimento consecutivo em relação ao mesmo mês do ano anterior. A última queda do indicador foi em março de 2011, refletindo tal situação uma forte consistência de expansão dessa modalidade de loja. Mas a alta de 18,10% do mês em questão consiste no maior crescimento registrado desde janeiro de 2010 (cuja base comparativa - deprimida - era o epicentro recessivo causado pela crise financeira internacional).
Isso comprova um momento positivamente diferenciado do consumo e que tende a permanecer nos próximos meses. Nacionalmente o crescimento foi de 17,16%, liderado por São Paulo (alta de 28,48%), Ceará (27,49%) e Bahia (26,59%).
Veículos, Motocicletas e Peças: Vendas Sustentam Alta
Em fevereiro as concessionárias de veículos tinham em seus letreiros de rua a já tradicional chamada "últimas unidades com IPI reduzido". A estratégia deu certo e apesar da alta média de preços de 0,48% (IPCA-IBGE de Porto Alegre) as vendas do ramo cresceram 26,25% diante do mesmo mês do ano anterior.
Lógico que o contexto econômico favorável do RS foram fundamentais para a concretização de tal resultado. Entretanto, não seria prudente garantir que as vendas de veículos, motocicletas e peças mantenham tal ritmo de expansão. O mais provável é que o percentual de março seja bem mais modesto (senão negativo) por conta - aí sim - do final dos estoques de carros com IPI reduzido.
Por outro lado, a concorrência setorial cresce rapidamente entre as várias marcas que já estão firmemente estabelecidas no Brasil e isso pressiona para a redução de preços, o que é naturalmente favorável para a alavancagem das vendas. O resultado da queda de braço entre a pressão tributária e o aumento da concorrência é que determinarão os resultados do setor no futuro próximo.
Nacionalmente as vendas do ramo aumentaram 5,92%, lideradas por Santa Catarina (29,39%), com o Rio Grande do Sul ficando na segunda posição.
Material de Construção: Em Céu de Brigadeiro
A alta de 19,41% nas vendas de fevereiro de 2014 frente ao mesmo mês do ano anterior confirmou a continuidade da elevada expansão do varejo de material de construção no Rio Grande do Sul.
O crescimento anualizado se manteve em patamares acima de 13%. A atividade de construção civil continua aquecida, bem como o mercado de pequenas reformas residenciais, especialmente com o apoio suplementar do programa Minha Casa Minha Vida.
Mas assim como os eletrodomésticos, móveis e veículos, os produtos de construção estão sendo gradativamente submetidos a retomada de alíquotas de IPI mais elevadas. Isso poderá comprometer o crescimento das vendas na casa dos dois dígitos, mas é pouco provável que o desempenho lojista deixe de continuar registrando resultados positivos nos próximos meses, se bem que provavelmente mais modestos.
Nacionalmente o crescimento foi de 16,65%, liderado por Pernambuco (alta de 36,22%), Santa Catarina (22,31%) e Minas Gerais (19,73%).